14.2.05

Homenagem

fim de tarde
Fim de tarde, com a suavidade da luz recuando devagar e a mansidão do tempo no seu ritmo remansoso. Artes de desconhecimento urdindo-se espertamente para criar essa intensidade tão própria. Fim de tarde de verão, abrandando o calor e soprando meigamente essas brisas avulsas. Reticente por pura precisão, o tempo arma suas volutas de fragilidade e nelas vai sendo leve e levita. Como um livro-luva, impresso por transparências, direito-avesso entrelaçados amorosamente pela fluidez da página, arborescências imaginárias por gosto e vivacidade, eternidade daquele exato instante, algazarra de fadas ligeiras e pétalas.
Rubens Rodrigues Torres Filho em "Poros" - 1989
mas o cisco


Corre o risco de escrever.
O risco da escrita corre
pela página deserta
se meu coração disserta
sobre o susto de viver.

Mas o cisco de entrever
colhe o disco da pupila
nos sulcos do acontecimento
no giro do acontecer.

Rubens Rodrigues Torres Filho em "O vôo circunflexo" -1981