28.1.05

No papel, Papel do Papel

No papel, Papel do Papel

Todos têm seu papel no mundo!
Alguns já o têm nas costas cravado
Como os pés e pulsos na cruz
Dentre os quais há os que não conseguem ler ou entender

Pois não encontram espelhos adequados
Ou tem sua flexibilidade atrofiada
Outros o perseguem num ritmo desenfreado
Sem saber que este mesmo é o papel lhes destinado

Giram como cão atrás do rabo
Suspeitam, mas nada os seduz:
Capuz que esconde, interroga, abala

O papel do papel
Apela nos gestos
Restringe movimentos
Condena prisioneiros
Estica monumentos
Impele pioneiros
Cala a fala
Embala a faca
E caleja a fala
Afia e lustra a bala
Desorienta aviões a prédios
Mata de asfixia
Ou de hiperventilação

E enquanto a Papa papa seu papel,
Saboreamos o nosso
Com o timbre de Subdesenvolvimento,
O rótulo de Terceiro Mundo,
Blended in 1500
E com a rubrica de todos
Domesticamo-nos em casa
Esperando que nosso real papel
Chegue numa garrafa toda riscada
Lançada por um sr. que tudo sabe
Menos o papel do papel que nos cabe

BIU
28/01/2005

Soneto da Fidelidade

SONETO DA FIDELIDADE

Vinícius de Morais

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

The Lord of the Rings

O Senhor dos Anéis

Uma imensa metáfora épica de nós...
Da vida, desta passagem triunfante,
A Odisséia pela Terra-Média,
A Batalha eterna de cada um
Onde os pequenos e os jovens mostram sua força
E tornam-se adultos
Os mais velhos mostram sua sabedoria
E tornam-se eternos
A percepção da consciência da luta por algo maior
Digno de devoção
A eterna dicotomia do maniqueísmo,
Do ser e vir a ser
Da busca e de nosso apego a símbolos do poder
Da lealdade, fraternidade
Amor eterno.
O criativo, pretensioso e desmedido triunfo dos homens na Terra-Média,
Como se fosse o da paz, uma grande mensagem
A eterna tricotomia
E a descoberta única de que o seu é o melhor lugar
E a felicidade repousa nos prazeres “pequenos”, “simples”
Fugazes
Símbolos do amor eterno
E da passagem do eterno ao momentâneo
Da cobiça desmedida e do descontrole
Frodo e o fardo do destino salvador supostamente escolhido
Tomado como sacrifício
O nascimento de heróis, sempre distantes
O platonismo do hedonismo
E o anel como metáfora da vida,
A vida a que todos queremos nos atar, aficionados, desmedidamente
E o medo eterno das cinzas e o fogo eterno...

BIU
15/01/2004

A vida segundo Charles Chaplin

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina.
Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.
Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.
Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.
Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.
Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria.
Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade.
Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando....
E termina tudo com um ótimo orgasmo!!!
Não seria perfeito?"

Charles Chaplin

Ato destituído

O ato destituído é a palma da mão estendida
sobre rosas mortas e sobre túmulos pouco importantes.

Mas tem-se sempre dentro das flores a primazia
do retorno, do efemero e do belo...
Sempre é tempo de reconstruir seu jardim
Simetría com o sol e as arvores,
com a vida e os tais atos que nada nos ajudam a viver
mais
Sempre é tempo de usufruir da beleza inequívoca
da tentativa, do erro e do zêlo...
Há algo que empurra nosso corpo abaixo, que destitui
abaixo
e nunca teremos tempo de chorar no antitempo das
escolhas.
Porque os homens ocos são os mesmos e escolheremos
como construí-los do tempo
Big-Crush da nossa espiritualidade.


Corra e olhe o céu

Corra e olhe o céu

Composição: Cartola e Dalmo Castelo

Vida te sinto mais bela
Te fico na espera
Me sinto tão só, mal
O tempo que passa
Em dor maior, bem maior
Vida no que se apresenta
O triste se ausenta
Fez-se a alegria
Corra e olha o céu
Que o sol vem trazendo bom dia
Ah, corra e olha o céu
Que o sol vem trazendo bom dia

II (de "Três Tercinas")

Nunca não ser ninguém nem nada
porém deixar-se estar no tempo
como se a vida fosse água,

com quem bóia à flor da água
sem rumo, sem remo, sem nada
além de sono, tédio e tempo

senhor de todo o espaço e o tempo,
munido só de pão e água
e, sem precisar de mais nada,

beber sua agua enquanto é tempo.
E, depois, nada.


Paulo Henriques Britto - Macau