Crônica de uma vitrine
Num futuro não muito distante, seremos todos manequins: magérrimos, traços perfeitos, pele, cabelo e olhos inalteráveis.
Presos a uma porosidade áurea, perfeitos, imóveis; com o olhar ao infinito; indiferente ao mundo e, inclusive os ouvidos, entupidos de cera.
E então seremos eternos, eternamente exibidos, olhados, admirados e expostos numa vitrine das lojas de grife (no futuro, todas as lojas o serão), invejados por outros igualmente perfeitos, eternos e encantados, hipnotizadas pelo horizonte indefinido - e, por serem eternos, não invejam nada.
Para sempre sem dores, inertes ao mundo, ao tempo, às opiniões e às emoções, sem dores. Mortos, pois não há vida sem morte e ambas, sem dor. Mas eternos, finalmente eternos...