Viver do amor
Chico Buarque1977-1978
Pra se viver do amor
Há que esquecer o amor
Há que se amar
Sem amar
Sem prazer
E com despertador
- como um funcionário
Há que penar no amor
Pra se ganhar no amor
Há que apanhar
E sangrar
E suar
Como um trabalhador
Ai, o amor
Jamais foi um sonho
O amor, eu bem sei
Já provei
E é um veneno medonho
É por isso que se há de entender
Que o amor não é um ócio
E compreender
Que o amor não é um vício
O amor é sacrifício
O amor é sacerdócio
Amar
É iluminar a dor
- como um missionário
Linhas Características
Duas por instante
São as vezes que me invades
Sem pedir licença nem perdão
Tomas conta do meu ser
Numa delas a agonia prepondera
Pois enfincas sua bandeira e
Caminhas para longe
“Simplesmente” meu cerne tanges
Deixas uma borrifada de paraíso
À distância pões tão pequeno narciso
O resvalar de tuas suaves plumas impõe vazio
Explicita minha carência sensitiva de ti
Isso desde que te conheci
Seja nos sonhos ou ao vivo
(Se é que os posso distinguir)
Há tempos!
Na outra sinto êxtase por estar contigo
Seja próximo
Seja escondido em meu abrigo
Contigo
Comigo
Com trigo
Cochilo
À pino
O crocodilo das horas não surte efeito
Pois as devora
Mas o tempo recusa-se
A atarantar da vida o momento predileto.
Quando sua existência não basta.
Aproxima-se
Tudo isto sobre a linha continua do pensamento devoto.
BIU