1.2.05

Dicas portuguesas de sobrevivência

NAVEGUE

Navegue,
descubra tesouros,
mas não os tire do fundo do mar,
o lugar deles é lá.

Admire a lua,
sonhe com ela,
mas não queira trazê-la para a terra.

Curta o sol,
se deixe acariciar por ele,
mas lembre-se que o seu calor é para todos.

Sonhe com as estrelas,
apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.

Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.

Não apare a chuva,
ela quer cair e molhar muitos rostos,
não pode molhar só o seu.

As lágrimas?
Não as seque, elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.

O sorriso!
Esse você deve segurar,
não o deixe ir embora, agarre-o!

Quem você ama?
Guarde dentro de um porta-jóias, tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.

Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro, se a idade aumenta;
conserve a vontade de viver, pois não se chega a parte alguma sem ela.

Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não o deixe viver sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.

Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades,
mas não enlouqueça por elas.

Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.

Acelere seus pensamentos,
mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.

Agonize de dor por um amigo,
só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.

Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.

Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.

Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudade, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!

FERNANDO PESSOA

Poesia e Paisagem Recifenses

"Você percebe o tamanho do artista quando a cidade dele se confunde com sua obra. Isso acontece com Roma & Fellini, Tom Jobim & Rio, Dorival Caymmi & Bahia, Woody Allen & Nova York... Poesia se confunde com paisagem. Quando chego em Recife, mesmo sem walkman no ouvido começo escutar lá dentro da alma Chico Science o tempo todo. É impressionante a gritante presença de Chico por aqui. Até motorista de táxi fala dele e me mostra o poste onde desgraçadamente ele se desmaterializou para outra dimensão das pontes e overdrives dessa cidade hiper musical.O Porto Musical começou ontem com uma grande festa, é claro. E o nome dele foi citado muitas vezes. E na maior parte delas, por alemães, franceses, italianos...
Viva Chico Science, Viva o Mangue, Viva Pernambuco!" Marcelo Tas (marcelotas.blog.uol.com.br)


A CIDADE

O sol nasce e ilumina as pedras evoluídas
Que cresceram com a força de pedreiros suicidas
Cavaleiros circulam vigiando as pessoas
Não importa se são ruins, nem importa se são boas

E a cidade se apresenta centro das ambições
Para mendigos ou ricos e outras armações
Coletivos, automóveis, motos e metrôs
Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs

A cidade não pára, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce

A cidade se encontra prostituída
Por aqueles que a usaram em busca de saída
Ilusora de pessoas de outros lugares
A cidade e sua fama vai além dos mares

No meio da esperteza internacional
A cidade até que não está tão mal
E a situação sempre mais ou menos
Sempre uns com mais e outros com menos

A cidade não pára, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce

Eu vou fazer uma embolada, um samba, um maracatu
Tudo bem envenenado, bom pra mim e bom pra tu
Pra a gente sair da lama e enfrentar os urubu
Num dia de sol Recife acordou
Com a mesma fedentina do dia anterior