12.1.05

Regina

Regina

Reger as sutilezas dos momentos,
Harmonizando-as tão naturalmente.
Incumbida disso,
Atenta a todos os detalhes para descobri-los de rispidez
Desnudá-los de seu viés negativo
Rege-os para compor alegria,
Enternece-os antecipadamente,
Filtra-os antes de aplicar curativo
E sopra aos céus as saliências indevidas.
Habilidosamente Regina rege.

Empunha a alegria como um punhado da boa terra
Agarra-a
Pende-se dela
Ama com uma força desmedida
Projeta seu amor por toques irretocáveis
Cicatrizando, regenerando a menor folha caída.
Apanha-as e, cavalgando, borrifa-as, em pétalas, aos miseráveis.
Cavalga o mundo regendo alegria.
Regime Regina de viver

Planta alegria indefinidamente
Uma praga
Prega a praga da alegria
Descontrolada
Firme e rija, regira o desconforto do momento,
Regida por sua naturalidade estrategista,
Registrada nas notas ressonantes no pensamento,
E mascara o instante como irreparável artista.

Vai voando e despejandoDespeja seu incontido amor por entre nós
Esse amor que escorre de seu sorriso de ló
Despeja o amor que lambuza seu corpo
Que pinga de sua alma
Des-pé-já-nos.

Da janela de seus olhos, o mundo é sereno.
As bases de suas mãos encontram-se em nossos queixos
E estendem-se por todo (o) rosto aflito
Retalhando-nos os mais incômodos seixos

É então que você, dilatação no espectro da bondade,
É atacada por amarguras infinitas
Resvalam
Infinitas amarguras insistem
E seu espírito arguto somatiza-as, cansado,
Para livrar-nos de qualquer sombra de tristeza
Absorve-a todas para livra-nos de seus vórtices
Incapaz de fugir de seu dom,Afasta-nos do execrável
Afasta o execrável de nós
E leva ao infinito em todas as direções
Infinito, como é infinita a tristeza de sua morte,
Inferior apenas a alegria, amor e bondade de sua vida.

Continua seu papel,
Embevecendo a atmosfera de alegria
Fagocitando todos os momentos tristes
Como o fazem todos os momentos que transcorrem de ti
E que persistem por todo o infinito.

Biu
8/10/2004

S

S


Uma grinalda de bem-estar coroa meus pensamentos,
Embriaga-os languidamente,
Suavemente embala e acolchoa os momentos.
Além do físico, aprofunda-se na mente.

Uma conspiração das possibilidades
Compôs um halo de alegria
E acorrentou-me à maior das beldades,
Indefeso diante de sua atmosfera pura.

Nascidas do bojo dos campos mais sublimes,
As pétalas são acalentadas pelos veios mais inócuos.
E, lentamente
(não há pressa, pois harmonizadas por
forças sábias que reconhecem a suavidade subjacente
às belezas eternas),
Escorrem trazendo fragrâncias inexistentes,
Texturas inconcebíveis,
Sabores nem por Sade imaginados,
Sons perfeitos, irretocáveis,
Que remetem à paz de uma ilha intocada,
Cores e movimentos coreografados por oniscientes pintores e arquitetos.
Elas espiralam por uma poça cerceada por todo deus.

Então que, numa profusão sinestésica,
Guiadas por sopros divinos,
As pétalas dão forma a uma figura magistral,
Uma grinalda para sempre incólume,
Uma mulher eternizada pelo nome S.

Destinada a coroar todos os momentos de beleza,
Sob a sina de inundar de graça qualquer pensamento,
S nunca se estafa de sufocar tristeza
Com seus cheiros, toques, gestos, jeitos. Com seu inédito jeito.

Enfeitiçado como os que encararam Medusa,
Tive os passos congelados e o coração perfurado.
Segui o rastro de pétalas de pés arrastados
Desejando escrever-lhe o melhor dos livros de poesia.

Movido por impulsos dionisíacos,
E com estomago soprado por um vento gelado,
Aproximei-me da diva mais que bela
De corpo suspenso por seus traços e estímulos paradisíacos.

Cada palavra escorrega-me a alma,
Cada brilho de olhar faz-me arrimar na parede,
Cada sorriso ressalta-me a beleza remanescente
E cada pescoço cheirado faz-me renascer sem calma,
Pra vida eterna.

Ao tocar seus lábios fui transportado,
Deixei o corpo, embalsamado por pétalas.
As pétalas trazidas dos mais belos montes
Pelos fios de lágrimas das mais elevadas montanhas,
Enternecidas pela pureza de meus sentimentos.

S coroa meus pensamentos
Acolchoa meus momentos
E me vicia em texturas de sentimentos
Coroando instantes cuja intensidade remete ao eterno.

Biu
09/11/2004

Recital

Recital de Formatura – Simone de Souza Gonçalves

O conjunto ressoa o inefável..............................................................
Regido por um apêndice inatingível.......................................................
Vida e obra ressoam o impensável............................................................
Dedilhando a memória impensável..............................................................
O eterno jaz no encontro plasmático..............................................................
Da digital com a prótese rumo ao sublime.....................................................
No fundir freneticamente harmônico .............................................................
De ser com seu pensamento incólume............................................................
Bach, Beethoven, Schumann e Krieger conduzem........................................
As mãos e os pés por um intrincado labirinto................................................
Dédalo de emoções faz a cóclea de refém......................................................
E impregna a alma do absurdo caminhar ereto..........................................
As teclas acavalam-se para projetar dor à cauda...................................
A dor que invade a moça em vestido preto em salva.......................
Passa dos martelos às cordas ressonantes.....................................
Que realimentam a composição...............................................
Num circuito de emoção....................................................
Cuja variação inunda o individuo do divino............
A impressionante habilidade........................
Conecta os sobressaltos.............................
Conduz o espetáculo da música.............
Ao seu êxtase.........................................
Preenche as microvilosidades..............
De toda (a) alma..............................
E faz a consciência....................
Transbordar...
O momento..
Buscando a simples essência.

Biu
10/12/2004

Veri

Veridiana


Imagino-a-nos a todo momento
Sofro com meu amor
Como sofre a gota que escorre
No suor da testa que morre,
Invagina-se perante a flor,
Pois, faz do amor, o calor do pensamento

Biu
16/08/2002

Televisão

Televisão

Telê vi são
Te Levi são
Televisão
O T da antena da televisão:
Duas tabuas
A de baixo sustenta a de cima
Fragilmente
Um equilíbrio milimétrico
Tela e felicidade
Suporte épico
A de baixo mantem
A de cima retem
Oscila, desespera
Mas lá sempre está o mico
Tábuas
Achatadas
Chatadas
A chá dadas
Atadas
A esfericidade achatada
O T da tomada, vulgarização do Benjamin

Biu
29/03/2001

Saudade

Saudade

Como contornar constante saudade constante
Amarrado a esta
Emaranhado nesta
Viciado no aroma do lar
Fadado ao simples ato de amar
A ponto do pensamento sufocar
Estrangular, torcer
E fazer do sangue do amor,
O único que sai
Planto o pranto

Biu
03/04/2001

Riscos

Riscos

“Toda teoria vem ungida de preconceitos. De inerrância. De dogmatismo”.
De auto-suficiência. Gosto mesmo é da vida. Com suas incoerências.
Com seus altos e baixos. Com as suas montanhas e os seus vales.
Com todos os seus acidentes geográficos. Com tudo isto que faz
a vida gostosa e divertida.”



Meu dia é noite
Há relâmpagos curtos e longos
Como o bem-estar num albergue espanhol
Mas é noite.

Esqueço de meu sucesso na ciência
Esqueço de contar
Pois estou carente
E um carente transmite tristeza.
A solidão rouba-me.

O erro é essencial, pois promove mutação.
E esta, a evolução.
E explica nossa trajetória
Errante.
Erramos, pois somos o acumulo de erros;
E aqui estamos porque erramos.

Biu
14/12/2004

Período

Período


Oscilo entre o sábio e o chulo.
A solidão provoca flutuações do ego
Um silêncio arrebatadoramente cego
Que me projeta no povo por onde perambulo

Firo-me para curar-me

Preciso de fendas que me difratem
E não espelhos que me exaltem ou rebaixem.
Habituei-me às regras do outro.
Penduro a toalha no espelho.
Não estou pronto.

Deito nu
E transparente sigo ao museu,
Infiltro-me no jardim burlesco
E na loja de antiguidades busco o mesmo.

Saudades bárbaras invadem minha consciência
Deixando-me faminto pela programação caleidoscopica.
A tradição japonesa torna-se fóbica
E a sudorese da Cinelândia reflete a ausência.

Mas resgato a felicidade
Ao achar o ângulo que eterniza a realidade.

Biu
12/12/2003

Pa(z e is)

Pa(z e is)

Pais que não deixam o rapaz,
Restauram minha paz.
Involucram-me.
Escorro vagarosamente na curva suave de seu amor
Como uma gota na pétala da mais acolhedora flor.

Paz na sombra dos pais
A paiz da raiz, nos pais.
Troque-se a curva pelos traços,
Pois não sinuam,
Insinuam sim, a mais pura dor
Em si, nuam
Expremem-se tanto
Que escorre o amor gotalado
Puro, infinitado
Absolutamente.

Seus traços sim, me traçam
O de cima
O de baixo
A mais sublime união
Vinda do âmago do mistério
E desta, um novo traço
Um novo risco
Uma nova estória
Escorado nesse mundo arisco
Pela eterna aurora
Como a do sol sobre a Terra
Formando o traço e ponto do i
E transformando, assim, a paz em pais

Biu
2/01/2002

London

London

Sweet Thames, runs roughly
Cause moment is umberable.
Can’t stand it, neither under.
Show against time our battle.

I know so little about flowers
But cry when a single touch touch my eyes.

If poetry jumps from these waters
It is because humilty has gone to pies
And humanity buried with apples

So much apples
And so bitter pies

The way you shake
Reminds me the oders
And the bleeding from their back.
The time claws,
And the way it lashes.

From British and Natural History Museums
Through National Gallery and Tate Modern
Can (everyone) fly above our time
See its melting point
And fall with its weight

The green places make we sit
And admire how can life exists
And why must a tree grows
Ignoring ubiquitary flows

All the corners, your meanders
Show the curves
Wheren we recover conscience
The conscientiousness of time
And vice versa.
The reality from the Unreal city.

Biu
15/08/2003

Lapso

Lapso



A esfericidade deste momento inunda,
Inunda meu ser do puro pensar
Refletir, como reflete o lustre esférico deste quarto,
Reflete a janela, a misteriosa dor do parto.

A ausência desperta ao novo
Impele o espírito a ousar
E o grito explode incontido, a ecoar,
Dando vida às pétalas de pano.
Comovo-me.

Toda curvatura exige esforço
Desviar do caminho direto e permitir-se
Permitir a concavidade ciliar
E a convexidade da brasilidade feminal.

Biu
Carnaval 2004

Hotel Ferreira Viana

Hotel Ferreira Viana



Fios de ouro branco escorrem
Pelo espelho paranóico
Que absorve meu olhar trêmulo e heróico
Em busca de mim e dos que fogem

Também lá fora, pelos paralelepípedos do Catete correm
E fogem de uma antítese infinita:
A falta de amor pelo externo imita
Implica e explica o desleixo interno dos que morrem.
Somos uma descontinuidade
E não somos
Pois o ser depende do amar sincero bidirecional
Ao que chamo felicidade.

Biu
10/12/2003

Flores

Flores


Pessoas são como flores!
A mais sublime dor exala uma fragrância desmedida.
E precisam de um inseto,
Uma borboleta, um grande passarinho,
Ou até do vento
Para desfolhear sua carapaça impermeabilizante
E depreender o pólen,
Um pó lento
Que oscila brawnianamente
Até encontrar seu destino,
O que mais rejeitam,
Uma nova flor
De anteras abertas,
A si mesmos
Um poço sem fundo
Cujo fundo está nas coisas simples
Como o simples oscilar
E ter certeza de que
Não há certeza
Apenas a tragédia do vascilar

Biu
27/09/2003

Filosofia da Linguagem

Filosofia da Linguagem

Sejam os corpos
Os números
As palavras
Alfabetos
Verbos
Todos estabelecidos
E absorvidos
Sem questionamento
Somos acostumados
Aos significados dos signos
Deles nos apossamos
E neles nos viciamos.

Minha enxaqueca desprende-se com eles
E a ordem encapsuladamente jaz
Sob os cuidados do contrato signatário.

Comunicação
Comum ação e cação
Comum cação
Co-munião
Comucação
Cacomencão
Muconica
Comunicacao
Comunicacao
cominicacao
comunicacao
comunicacao
comunicacao

Sob um sistema de comunicação
A impressão que se desprende
Dos símbolos (des)cansa sobre
As austeras lanças do ser nobre
E resigna-se ao acomodamento.
Captar a real alusão
E depreender:
Eis uma meta.

Quem sabe, através da língua da natureza,
Captemos sua essência
E a nossa...

Convívio

Convívio

Cortar , Cessar,
Interromper.
A aflição que
doma o ser ,
quando lhe
embevece
a atmosfera da Morte ,
Estagna e resta arfar ao ritmo da corda que suspende.
Despencam pilastras todos instantes Na composição do escravo
caminhar . E a poeira levantada por pés vacilantes Enevoa a beleza
do mármore que virá a deparar . O doce veneno dos loucos amantes
Lacra a efervescência para o nunca . Emplastro dos enfermos agonizantes,
As horrendas dores e tristezas dos pobres errantes , trunca . Alívio!!
Heróis ?!Mestres na
escultura de suas
lápides !Vagam por
preciosas pedras
e, então, incrustar...
Sabem que o
último brado
é o único capaz
de imortalizar.
Banemos o
fatalismo
paralisador !
Convivamos
com a Morte !
Empunhemos
o inevitável!
E Façamos da Morte
a arte de viver!
Arte!!
O limite nos é sorte
Pois podemos
sublimar e sublimar
sem a necessidade
de definhar
Com o inferno da Morte

E viva a morte!!
Biu

Cálculo Diferencial

Cálculo Diferencial


Patetas
Vejo patetas
Expiro profundamente
E o ar quente e podre que daqui sai
Exala a monotonia do ser humano
E condensa-se numa cúpula gelada
Buscamos não sei o que
Caminhando
Passo a passo
Vemos apenas adversários
E num infinitesimal da sinuosa curva
Não conseguimos apreender
A constância funesta
Do ser humano
Candidamente
Neuroticamente.
Apenas
Só resta o humor
Criamos o riso, a risada
Não existe riso sem desgraça
Como vazio sem vaso
E no arcabouço do livre-arbítrio
Criamos perfumes
Para encobrir
A podridão
Que tinge a água
Que refresca as feridas asquerosas
Da contínua guerra do ser
Contra o Diabo e Deus.

Biu
18/09/2003

Batalhas

Batalhas



Aahhh!!! Se a alma humana fosse vista
Sem precisa rmos de pista
Tudo exposto ao céu aberto
Contempl ássemos o s labirintos de perto !!!
Verí amos allgu mas dilaceradas
Escavadas pelas unhas da vida
Esculpidas pelas in te m p éries delas vestidas
Vazadas espetadas p or cir úr gi cas lanças atravessadas
Das c rianças n u as e cruas
Pálidas esferas r ol ando nas ruas
Latências pulsant es por fl echas e pedras cruzadas
Que até n os sonho s estão alojadas
Às veze s uma b ala de canhão
E vidas pa ra a sup er ficial cicatrização
Decapt adas ou de s ugadas cabeças
No corpo di ssolv idas digeridas
Numa a utoce falofagia
Para nun ca mais conseg uir unir as peças
Toda a loucura c ondensa da num átimo:sofrimentorréia
Sob o escudo de int actos co rpos e v igorosos sorrisos e falas
Lá está a alma vestida com bro ches se medalhas
Disforme tortuo sa e cap engamente
Torcendo pelo mais s úbito go lpe pelas costas
Ou pelo abraço que só virá de trás
Pois a guarda é muito firme na batalha da vida
Biu
25/07/2002

A uma amiga

A uma amiga


Vossa Excelência, licença para colocá-la nessa brancura,
Parte do seu infindável reino. Solte-se por essa madeira,
E, de alguma maneira, mostre sua força. Um piparote já é moldura,
Loucura. Seu palco é o mundo, é o fundo. É a clareira sem beira

Quando colocaram Vossa Santidade na rocha saímos da Pré
E viramos História. Nasceu a memória. Ouvir é glória.
Chega pelo ar nessa parabólica, colabora ou apavora: a História.
Vossa Santidade conduz essa peça, chamada vida. É o pé

A Senhora atravessa os mares, invade os lares; afasta feras, acende trevas
Permite o culto aos deuses, a fé das montanhas. É a escada do porão
Sobre a Senhora não há domínio. Mais forte que Sol. Define imensidão
Mais profunda que o mar, mais romântica que o luar. É-nos cevas

Sua pá lava, eleva, cala, safa, mata. Você, Palavra, semeia o Amor,
A dor; cultiva o sabor; planta o saber, o viver: amplitude celeste
Sem você tudo some: a ciência, a religião. Chegaria, Mestre, a Peste
Graças ao seu infinito sou ser humano. Sem seu infinito já éramos: Clamor
Biu, 1999.

Pelo Viés da Poesia

Acabei de criar este blog. A idéia vem amadurecendo a algum tempo: criar um ambiente virtual onde seja desejável expressar-se por meio da poesia, em seu sentido mais amplo; onde possamos enxergar o mundo também pelo viés da poesia, levando-nos a assombros emocionais, tentando detectar a beleza insubstituível de todo (o) momento, tentando destacar a alegria que nos embevece quando percebemos que podemos perceber tal beleza e que nos impele à construção de algo melhor e a que chamo epifania. A poesia é o instrumento da epifania. Espero que colhamos grandes alegria e bem-estar pelo viés da poesia.