13.5.07

Corpo-Alma

(http://www.artenauniversidade.ufpr.br/muvi/artistas/m/marcela_tiboni/marcela_tiboni.htm)


“... O silêncio total me deixou ainda mais apreensivo. Salas de espera nos obrigam a pensar que vamos morrer, e por mais edições antigas da revista Caras que tu folheie, não conseguirá abafar a consciência de que há uma parte do seu organismo se deteriorando, de que teu corpo é temperamental e pode simplesmente se rebelar contra ti, e de que agulhas e químicos e instrumentos de metal serão enfiados em locais desagradáveis causando dores e muito dinheiro será gasto pra que as coisas voltem temporariamente ao normal , pra tentar resgatar aquela ilusão de que o corpo é um veículo sob o nosso controle..."
(pág. 49)

“... No entanto ela me encarava sorrindo, com os mesmos olhos que eu encontrava antes nas manhãs, um olhar que nos conectava e expressava que éramos parte um do outro. É difícil imaginar sensação de maior conforto e serenidade do que esta, que surge da ilusão elaborada de que fazemos parte da vida de uma pessoa a ponto de estarmos verdadeiramente unidos, de tudo estar bem se o outro estiver por perto, se apenas nos for dada a chance de saciar os desejos e interesses um do outro, de tolerar um ao outro quando sacrifícios forem necessários e deixar que todo o resto se foda, se destrua e morra, porque não haverá problema. Aquele olhar dela era uma manifestação perfeita dessa ilusão confortadora. Durava pouco, apenas instantes, como qualquer êxtase, mas era eficaz....”
(pág. 81)

excertos de "Até o dia em que o cão morreu" (adaptado para o cinema em "Cão sem dono")
Daniel Galera

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