9
sóis a João
Filho
João, o nascer do sol 9 brota a saudade em soluços. Choro a beleza de viver na
sua ausência, que se finda. As bochechas sentem aguadas o frio de fim de maio,
encobertas por uma pele de lágrimas puras, destiladas na presença de sua falta
por 90 dias. As mãos vivem o frio ao registrar estas palavras do nascer do 9°
sol, da cruz detrás do morro do Peru. Sinto e choro o belo.
O
espetáculo de viver o colorir de tudo entorpece pelo infindável ao alcance dos
olhos. Vislumbro sua chegada no desembarque. Seu surgir deixa tudo mais nobre,
digno de ser vivido. Adianto aqui as lagrimas que virão, no soluço repercutido
das vísceras.
9 é
um sol que solta o rabo na terra. Toca o horizonte por um outro pedaço de
círculo, maior, mostrando a coragem de existir só. É preciso viver bem só. Para
tocar melhor o que não sou, o que é distinto de mim. Para reconhecer o que
também não sou. O disco completo e o segmento de círculo maior encontram um
caminho de viver. A vida segue. É o seu segmento.
Fazer
parte de algo maior deixa ser maior.
9
também é círculo desenrolando do chão. É broto a enfrentar o futuro. É a terra
que se lança no cosmos, amparada. Por enquanto. Acaso desafiando o ocaso. É
vida pura, teimosa, criativa e disponível. Não deixa de ser unidade lançada do
todo para contemplar o que há a vir.
Não cabe o pronome em “filho João”. Você
não é meu. É de tudo. É tudo e não caba na posse. Desejo ajudar você a ser
livre, do seu tamanho. Viver uma plena vida, cheia do bom, do mal, seus
interstícios e descaminhos. Uma vida humana digna e espelho da beleza de tudo.
Quero também estar na sua unidade, por onde estiver. Quero sermos círculo e
também segmento. Quero ajudar seu pleno viver autônomo, seu colorir do mundo.
Desejo que você seja. E isso é tudo.
O
sol 9 já tinha nascido um tanto quando me dei conta. Chegou miúdo, e agora já
seca o sereno das flores da grama onde sento. Aparece sem preparo, mesmo após
alguns nasceres esperados nos últimos 3 meses. Não há preparo para o
inesperado. Há o preparo para o acolher o que vier, mesmo que seja a
catástrofe. E principalmente se assim o for, pois não se pode sair do contínuo
transformar. Somos impermanência.
Sua
chegada é para sempre, como este nascer do sol 9 na cuesta de Botucatu, neste
dia 24 de maio de 2018. Com ele vivo seu retorno próximo, em lágrimas e
palavras fugazes, e para (um tanto bom desse) sempre.
Chega
filho João. Desembarca. Há suficiente viver. Seja o que houve. Seja o que
houver.
Seja
o que há.
Há o
ser.
Há.
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