por Felipe Modenese
I
Temos as estrelas como forjas!
Seus núcleos absurdos fazem nossa matéria!
Que melhor tempo que o agora
Para lembrar nosso bilhões de anos moleculares
Presentes em cada passo inacreditável?
Vivemos o absurdo, sim.
Não poderia ser diferente: somos o absurdo de seres
Contemplando a magnitude impossível do universo.
II
Temos as formações planetárias como forjas!Vulcões, terremotos e a alquimia destrutiva
Permeiam nossas entranhas celulares.
Deslizes massivos, corrosão e a aleatoriedade
Da sutileza fazem nossa integridade.
Que melhor tempo que o agora?
Somos os cataclismos realizados,
Ecoando e pulsantes nos nossos sofás.
Encorpados nos dedos frenéticos aos celulares,
Estão tantos colapsos colossais e rupturas hediondas
Da composição de nossa Terra.
Despertemos!
Da hipocrisia,
Da inconsciência de nossa resiliência
Frente à matriz de destruição e criação
Da realidade que nos faz.
III
Temos predadores, fobias e coragem como forjas!A sabedoria e a destreza,
Perante os crivos dos massacres, vivem em nós.
Somos, sim, lapidados por fendas na evolução biológica,
Pelas lâminas de desafios sobre e interpostas.
Que melhor tempo que o agora
Para lembrar que realizamos, em corpo e espírito,
A mortalidade das presas do T.rex
E o mágico voo estático dos beja-flores?
Encarnamos a herança da hibernação
E a hecatombe das metamorfoses.
Em nosso alforge hereditário
Descansa uma resiliência samurai,
Esculpida pelas eras de um tempo
Inagarravel pela razão torpe.
IV
Temos a selva e o fogo como forjas!Dispomos da penetrância da lança,
Da genialidade da alavanca.
Conosco é a maleabilidade dos metais
E a mortalidade das armas.
Que melhor tempo que o agora
Para viver a realidade dos traumas
Em perfusão na civilização?
Massacres, escravidão, Auschwitz, Jesus
E toda a pirofagia existencial da cultura nos sustentam
Atravessando as digitais nos volantes dos carros.
Estes são acordes da sinfonia histórica
E os passos de nossa dança inimaginável.
Já são 3 meses de ameaças virais,
Pandemia e isolamento social.
Como fica a dimensão desse tempo
Perante a resiliência colossal
Da realidade existente em cada um de nós?
Os números (e a estupidez do governo) assombram sim!
As mortes de coronavírus são mais de 40 mil,
Deixando marcas e lapsos sem velórios.
Ficamos recolhidos e destroçados, mais um vez:
Um golpe seco e duro para a forja e o despertar
De nossa resiliência inacreditável.