3.2.20

Horas são

Horas são 

No corpo do pai,
bem longe do filho,
sente espírito tanto
os tapas na cara da alma.

A peleja humana vigora
o planeta azul;
detona o verde
(des)fazendo a sombra de sua natureza.

Vamos sem sentido, ao descalabro:
só; vamos.

Com que arrogância prosperamos
no desterro
da ascendência
de nosso chão? 

Com que fundura 
pais desconhecem
a prontidão da neurobiologia interpessoal dos filhos?
Enterram buracos 
a ecoar por gerações?

O vazio é vasos, 
desabrochando exóticas orquídeas,
ora louco,
ora são.

Do ventre da (H)era digital,
pululam pop ups:
pólen-dúvidas,
clamor de sabedoria,
brados de austeridade 
em súplicas de presença.  

Onde se hiberna a compaixão?
Por onde vaga a alegria livre de consumo?
Em que oração emerge o altruísmo nutritivo?

Na matéria do espírito, 
repetimos os exames,
o sacramento do nada 
em busca de forma 
e qualquer a-b-sol-vi-ção
do espírito da matéria. 

Nestas horas, são,
ridicularizo o que sou,
encarno o que é, 
cravando linguagem 
na cruz deste momento. 

No corpo do pai,
bem longe do filho,
o espírito sente tanto
tapas firmes na cara 
para despertar amor puro 
em pleno desastre
dessa(s) horas são. 
Árvore centenária derrubada "naturalmente" na fazenda Nova Era (Botucatu-SP, foto 14/07/2019)




2 comentários:

Paula disse...

Lindo, Felipe! Obrigada.

Luiz disse...

Demais, que forte!