14.3.05

Gratidão

Na sombra

Muitas palavras já foram ditas,
Dentre as quais, há aquelas às arvores.
Eis mais algumas:
Sois a fonte de minha nutrição.
Suprais-me.
Algo de vós me deixa em suspensão.
Talvez a seiva.
Inundais-me de tal modo que às vezes explode uma explosão.
Afagais-me.
Viciais-me.
Acalmais-me.
Aquietais-me.
Chego até a me expor aos maltratos do vento, do frio,
Pois sei que a seiva é infinda.
Chego até a dispensar o Sol, a Primavera.
Pois sei que o calor é imediato.
Largo-me ao sabor dos ventos uivantes.
Chicoteio,
Vibro,
Oscilo, bestamente,
Pois sei que o pedúnculo é o mais intenso.
Abro o braço a tempestades.
Tomo cada pancada, mas me safais de cada.
Venceis a gravidade.
Sois imbatíveis.
Às vezes me enrolo e num espinho me transformo.
Às vezes me alargo e a vitória-régia do riacho está a cargo.
Permitis a metamorfose.
A redemoinhos faço pose.
Sonho na mais bela flor desabrochar,
Um inseto de pólen lambuzado hipnotizar.
Para num fruto evoluir.
Para ao chão direto ir.
Uma semente, esse glomérulo do amor, liberar,
No solo me infiltrar, brotar, crescer, crescer, crescer, viçosamente.
A ponto de uma certa altura ultrapassar.
E sob minha sombra para sempre vos resguardar,
Infinitamente, grato pela seiva que me faz viver,
Pelo Amor que de tão intenso,
Não conseguis conter.
Lucrécio Rodrigues Torres
13/02/2002