21.8.07

Pérolas

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(Anúncio do Espaço Cultural CPFL)
A Editora Verus e o Espaço Cultural CPFL convidam para o lançamento do livro A Pérola e a Ostra, da escritora e poeta Cássia Janeiro. O evento é precedido de debate, com presença do crítico literário Antonio Candido, que prefacia o livro, e do escritor e cronista Rubem Alves, que assina o texto de apresentação.
Foi num texto de Rubem Alves que Cássia Janeiro encontrou o aforismo que viria a inspirar seu livro: "Ostra feliz não faz pérola". Comenta ele: "A ostra, para fazer a pérola, tem de ser infeliz. É preciso que ela tenha, dentro de sua carne, algo que a corte, um grão de areia com arestas pontudas. Dói. A ostra faz a pérola para parar de sofrer. A Cássia leu a frase, reconheceu-se e a transformou num poema".

Experimentando com mesma intensidade o que chama "dor poética", fruto de uma existência que se torna premente expressar, e a dor patológica de alguém como ela, que sofre de transtorno bipolar e mononeuropatia múltipla, Cássia Janeiro encontra na produção poética uma forma de sublimar o sofrimento diário.

No mesmo texto de apresentação ao livro da poeta, segue Rubem Alves: "Quem só vê as presenças só vê a beleza redonda da pérola. Não vê a dor que a fez nascer. Acontece também com os poemas: a sua beleza não nos deixa ver que, além da poesia, existe a dor que a própria poesia não consegue dizer." E mais adiante: "Por que os poetas escrevem? Bernardo Soares diz que 'a arte é comunicar aos outros a nossa identidade íntima com eles'. Pois é para isto mesmo que escrevem os poetas – para a inefável experiência de saberem-se iguais a todo mundo. Poesia é uma solidão de onde brota a comunhão."

Nascida em São Paulo em 1964, filósofa de formação e especialista em antropologia social e cultural, Cássia Janeiro é doutoranda em literatura brasileira e autora de dois outros livros de poesia, Poemas de Janeiro (1999) e Tijolos de Veneza (2004), ambos também prefaciados por Candido.

Leia a seguir comentários do crítico literário sobre sua produção poética.

Poeta plenamente configurada

Fragmentos do prefácio de Antonio Candido

Na poesia sempre houve um elemento de manipulação e um elemento de vibração. Certos poetas tendem à manipulação técnica, enquanto outros se entregam à vibração emocional. Mais interessante é quando sabem misturar bem as duas coisas, a fim de conseguir um texto que exprima o seu ser e, ao mesmo tempo, seduza pela fatura.
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Os poemas de Cássia Janeiro se equilibram bem entre a capacidade de compor e a capacidade de fazer sentir, porque a sua composição parece aderir ao fluxo da emoção, como se o verbo brotasse de uma fusão inextricável da vibração pessoal com o desejo de alcançar o outro por meio da linguagem ordenada.
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Isso me atrai, porque prefiro poemas que, por assim dizer, me fazem companhia. Poemas aos quais posso recorrer quando preciso de compreensão e solidariedade. Graças à oferta comovedora que o poeta faz de si mesmo, eles ajudam a compreender melhor a mim, mas também o semelhante e o mundo.
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A sua simplicidade depurada faz da composição poética uma filtragem, de tal modo que a sua densa emoção, a sua dolorosa experiência se torna patrimônio de muitos. Direta e penetrante, ela sabe ligar o pólo do eu ao pólo do outro e do mundo, porque, por mais forte que seja a sua mensagem carregada de paixão, freqüentemente de dor, há nela a forte vocação do diálogo, sem o qual o poeta não se configura. E quem escreve poemas como Cássia Janeiro é poeta plenamente configurado.
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