18.3.06

Diálogo (nada despretensioso) de uma vida

- Se você colaborar - ele disse - poderá pedir tudo o que quiser ao Senhor das Inclemências
...
- Imortalidade? Uma eternidade toda com essa serpente fodendo o meu coração? Uma eternidade cheia de medo, de falta de ar, de arritmia cardíaca? Nada feito.
- Você diz porque não conhece a outra alternativa.
- Que outra alternativa?
- O fim comum dos humanos. A morte. Você entende a morte? Já se imaginou morto alguma vez?
-Já que tocamos no assunto, acho que vou me suicidar assim que sair daqui.
- Não, você não vai. Você vai continuar agarrado a essa vida que você detesta, porque no seu coração, nesse mesmo coração pequeno, companheiro de gruta de uma cobra, você sente que essa vida é a única que existe. Depois vem o nada. Entropia de céluças, rendez-vous de vermes, nada de consciência, nada de memória, nada de nada, finito. Kaput. The end - ele compassava as palavras com pequenos socos no braço da cadeira. - Não lhe parece que uma eternidade cheia de medo, por pior que venha a ser, é preferível a uma eternidae cheia de nada?
- Estou pensando se vale a pena pedir minha parte em dinheiro.
- Como preferir.
pág. 54 "Síndrome de Quimera" Max Mallman