31.1.05

SULZUL

SULLUZ

Espreitado por chifres pequenos e pontudos
Extrai-se do mistério de que a noite recobre
A paisagem manifesta por lusco-fuscos,
Lampejos dos processos deitados num silencioso molde.

Remetido por horizontes verti-transversais
Aos recônditos do zigue-zague do eu,
Aprofunda-se a sabedoria do ateneu
Ao desconhecer (não conter) as verdades universais

Açoitado pela imperceptível continuidade d e s c o n t i nua do processo,
Vislumbram-se o rasgo do fardo amargo,
Amado por seus gestos singulares do desejo,
E os enfiltramentos do belo pelos vincos do embargo.

E para conhecer-se se faz necessário conhecer
Pois nas entrelinhas do estimulo jaz o si.
Então que numa janela do tempo, permanecer
No tom da viagem da luz ao sul do mi
E deste àquela.

Lucrécio Rodrigues Torres

Inclina o perfil - Cecília Meireles

Inclina o perfil amado
nos veludos do silêncio
e apaga sobre esse quadro
as velas do pensamento

E fecha a porta da sala
e desce a escada profunda
e sai pela rua clara
onde não façam perguntas

E vai por praias desertas
desmanchando os teus caminhos,
cortando o fio às conversas
dos teus próprios labirintos.

E ao chão dize: Sou de areia.
E às ondas dize: Sou de água.
E em valas de ausência deita
a alma de outroras magoada.

Sem propósito de sonho
nem de alvoradas seguintes,
esquece teus olhos tontos
e teu coração tão triste.

Talvez nem a sobre-humana
mão que tece o ar e a floresta
perturbe alguém que descansa
de tão duras controvérsias.

Talvez fiques tão tranquila,
ó vida, entre o mar e o vento,
como o que ninguém divisa
de uma lágrima num lenço.

Cecília Meireles (de Retrato Natural)

True lovers in each happening of their hearts - Cummings

true lovers in each happening of their hearts
live longer than all which and every who;
despite what fear denies, what hope asserts,
what falsest both disprove by proving true

(all doubts, all certainties, as villains strive
and heroes through the mere's mind poor pretend
- grim comics of duration: only love
immortally occurs beyond the mind)

such a forever is love's any now
and her each here is such an everywhere,
even more true would truest lovers grow
if out of midnight dropped more suns than are

(yes; and if time should ask into his was
all shall, treir eyes would never miss a yes)

E.E. Cummings (in Selected Poems 1923-1958)

Vapor

" O mundo é apenas uma peça de teatro;
é vão e vazio, simplesmente nada,
uma simulação da realidade.
Não lhe dediqueis vossa afeição.
Não rompais o laços que vos une com vosso Criador
e não sejais dos que erraram e se desviaram de Seus caminhos.
Em Verdade, digo,
o mundo é como o vapor no deserto,
que o sedento imagina ser água e
se empenha com todas as forças em alcançar,
até que ao fazê-lo verifica ser apenas uma ilusão."

Bahá´u´lláh

Amizade

AMIGOS

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil e estéril."

Oscar Wilde

28.1.05

No papel, Papel do Papel

No papel, Papel do Papel

Todos têm seu papel no mundo!
Alguns já o têm nas costas cravado
Como os pés e pulsos na cruz
Dentre os quais há os que não conseguem ler ou entender

Pois não encontram espelhos adequados
Ou tem sua flexibilidade atrofiada
Outros o perseguem num ritmo desenfreado
Sem saber que este mesmo é o papel lhes destinado

Giram como cão atrás do rabo
Suspeitam, mas nada os seduz:
Capuz que esconde, interroga, abala

O papel do papel
Apela nos gestos
Restringe movimentos
Condena prisioneiros
Estica monumentos
Impele pioneiros
Cala a fala
Embala a faca
E caleja a fala
Afia e lustra a bala
Desorienta aviões a prédios
Mata de asfixia
Ou de hiperventilação

E enquanto a Papa papa seu papel,
Saboreamos o nosso
Com o timbre de Subdesenvolvimento,
O rótulo de Terceiro Mundo,
Blended in 1500
E com a rubrica de todos
Domesticamo-nos em casa
Esperando que nosso real papel
Chegue numa garrafa toda riscada
Lançada por um sr. que tudo sabe
Menos o papel do papel que nos cabe

BIU
28/01/2005

Soneto da Fidelidade

SONETO DA FIDELIDADE

Vinícius de Morais

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

The Lord of the Rings

O Senhor dos Anéis

Uma imensa metáfora épica de nós...
Da vida, desta passagem triunfante,
A Odisséia pela Terra-Média,
A Batalha eterna de cada um
Onde os pequenos e os jovens mostram sua força
E tornam-se adultos
Os mais velhos mostram sua sabedoria
E tornam-se eternos
A percepção da consciência da luta por algo maior
Digno de devoção
A eterna dicotomia do maniqueísmo,
Do ser e vir a ser
Da busca e de nosso apego a símbolos do poder
Da lealdade, fraternidade
Amor eterno.
O criativo, pretensioso e desmedido triunfo dos homens na Terra-Média,
Como se fosse o da paz, uma grande mensagem
A eterna tricotomia
E a descoberta única de que o seu é o melhor lugar
E a felicidade repousa nos prazeres “pequenos”, “simples”
Fugazes
Símbolos do amor eterno
E da passagem do eterno ao momentâneo
Da cobiça desmedida e do descontrole
Frodo e o fardo do destino salvador supostamente escolhido
Tomado como sacrifício
O nascimento de heróis, sempre distantes
O platonismo do hedonismo
E o anel como metáfora da vida,
A vida a que todos queremos nos atar, aficionados, desmedidamente
E o medo eterno das cinzas e o fogo eterno...

BIU
15/01/2004

A vida segundo Charles Chaplin

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina.
Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.
Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.
Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.
Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.
Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria.
Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade.
Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando....
E termina tudo com um ótimo orgasmo!!!
Não seria perfeito?"

Charles Chaplin

Ato destituído

O ato destituído é a palma da mão estendida
sobre rosas mortas e sobre túmulos pouco importantes.

Mas tem-se sempre dentro das flores a primazia
do retorno, do efemero e do belo...
Sempre é tempo de reconstruir seu jardim
Simetría com o sol e as arvores,
com a vida e os tais atos que nada nos ajudam a viver
mais
Sempre é tempo de usufruir da beleza inequívoca
da tentativa, do erro e do zêlo...
Há algo que empurra nosso corpo abaixo, que destitui
abaixo
e nunca teremos tempo de chorar no antitempo das
escolhas.
Porque os homens ocos são os mesmos e escolheremos
como construí-los do tempo
Big-Crush da nossa espiritualidade.


Corra e olhe o céu

Corra e olhe o céu

Composição: Cartola e Dalmo Castelo

Vida te sinto mais bela
Te fico na espera
Me sinto tão só, mal
O tempo que passa
Em dor maior, bem maior
Vida no que se apresenta
O triste se ausenta
Fez-se a alegria
Corra e olha o céu
Que o sol vem trazendo bom dia
Ah, corra e olha o céu
Que o sol vem trazendo bom dia

II (de "Três Tercinas")

Nunca não ser ninguém nem nada
porém deixar-se estar no tempo
como se a vida fosse água,

com quem bóia à flor da água
sem rumo, sem remo, sem nada
além de sono, tédio e tempo

senhor de todo o espaço e o tempo,
munido só de pão e água
e, sem precisar de mais nada,

beber sua agua enquanto é tempo.
E, depois, nada.


Paulo Henriques Britto - Macau

27.1.05

Carnaval: nossa "manifestação cultural"?

Amor à arte torna vida mais saudável, diz estudo
VALQUÍRIA REYda BBC Brasil, em Roma

A receita dos italianos para ter uma vida mais saudável, um intelecto muito mais ativo e combater a depressão é simples, segundo uma pesquisa divulgada no país: basta amar a arte e gostar de conviver com ela.
De acordo com o estudo, realizado pelo Instituto de Psicologia Analítica de Roma, visitar museus com freqüência pode ajudar a recuperar a serenidade necessária para enfrentar os problemas do dia-a-dia.
"Os efeitos benéficos são imediatos", diz o psicólogo e antropólogo Massimo Cicogna, coordenador do trabalho. "O contato constante com a arte aumenta a capacidade de atenção, o desempenho sexual e a segurança em si mesmo. Também melhora o estilo de vida de qualquer pessoa".
Feita com homens e mulheres com idades entre 20 e 35 anos, a pesquisa diz que os amantes da arte são quase três vezes mais ativos que os demais. Acabam se empenhando mais em questões sociais e são mais satisfeitos com o trabalho. São superiores intelectualmente e não têm problemas com a auto-estima.
Amor
Segundo Cicogna, a arte também faz bem ao amor.
"Os casais que convivem com a paixão pelo belo têm uma cumplicidade erótica muito mais elevada que os outros" (66% contra 37%) afirma Cicogna.
"Os benefícios sobre a personalidade em geral também são enormes. A visão do belo ajuda. Dá a força necessária para afrontar com otimismo os desafios da existência e relaxa a mente".
Quem é apaixonado por arte, de acordo com a pesquisa, supera mais facilmente uma situação de depressão (78% dos casos), enquanto aqueles que não têm este interesse ficam mais frágeis e apresentam mais resistência à recuperação.
A professora aposentada Stefania Rocchi, freqüentadora assídua dos museus italianos, concorda com os resultados. "Acredito que uma pessoa acostumada a admirar obras de arte tem uma percepção mais sensível e aberta de tudo que a cerca", afirma a professora.
Rocchi também mantém o hábito de visitar semanalmente um dos monumentos mais famosos de Roma, a Fontana de Trevi, imortalizada numa cena de "La Dolce Vita", de Federico Felini.
"A arte, seja ela qual for, faz com que as pessoas descubram seus próprios corações, quem elas são na realidade".
Síndrome de Rubens
O grupo de especialistas liderado por Cicogna é o mesmo que, há pouco tempo, começou a falar na "Síndrome de Rubens", descrita como uma série de impulsos sexuais que atinge os visitantes dos museus durante o momento que estão contemplando determinadas obras de arte.
Segundo eles, 20% dos freqüentadores de museus já tiveram algum tipo de "aventura romântica", enquanto admiravam estátuas e esculturas consideradas eróticas.
"É um estado de ânimo que se cria durante a visita a um museu, uma sensação de êxtase que somente uma obra de arte sabe difundir", explica Cicogna. "Para algumas pessoas, pode acabar sendo decisivamente excitante".
Com este trabalho, nasceu uma classificação especial dos museus italianos em que as pessoas correm mais riscos de serem acometidas pela "Síndrome de Rubens".
O mais "perigoso", de acordo com os especialistas, é o Palácio Doria Pamphilli, em Gênova, onde se encontra o "Sátiro", do artista flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640), que deu o nome à síndrome.
No clima
Na Galeria Borguese, considerado o museu mais romântico de Roma, a diretora Anna Coliva confirma que boa parte dos visitantes é envolvida no clima e na atmosfera do lugar. E aí, os beijos e os abraços são inevitáveis.
"Antes mesmo de essa reação ser batizada, as pessoas sempre reagiram desta maneira", diz a diretora. "Não sei se é uma síndrome, ou um simples estado de ânimo normal de comunicação, quando se entra em contato com coisas belas".
A turista austríaca Eva Soya e o seu namorado não conseguiram resistir à beleza e ao erotismo de uma das esculturas de Bernini. Em meio a outros turistas, os dois começam a se beijar apaixonadamente.
"Este lugar é muito romântico", afirmou Eva. "O ambiente é muito belo, com todas estas esculturas, a luz, as cores".
Segundo Massimo Cicogna, alguns brasileiros foram incluídos na sua pesquisa e acabaram confirmando os dados. No entanto, esta participação não deve ser considerada como um estudo detalhado sobre o Brasil.
De acordo com ele, o país deve apresentar resultados semelhantes, com base em outra manifestação cultural, mas com a mesma força que tem os museus para a vida dos italianos.

Ensaio Metafísico: O narcisísticoTempo

Ensaio Metafísico: O Narcisismo do Tempo

Uma súplica do TEMPO
Faz destoar neste momento
O grão que o pense
E remova o ausente

Tem, para tanto, a si mesmo
E a articulação de todos os entes
Hábil colapsa os a esmo
Fazendo despontar as setantes
Dentre estas a VIDA ( e a POESIA)

Dá-lhes afago continuamente
Dissolvendo sua magoa em água
E do oscilante capuz faz luz
Molda a HARNONIA da esfera
Que dança a sinfonia eterna
Da criadura
E dá sentido a sua à sua amargura


Revolve e sanfona a sorte:
Assopra os leques
E uma poeira discrepante
Que pólenvacila
E se plurifica em novos leques
Enche a sanfona do sopro
Que tece a tez da VONTADE

Num palco arisco,
O INSTINTO expele a teia cônica
Que repele progressivamente,
Cerca o ser contra risco.
Uma clareira para a vida atônita
Onde vaga e resguarda.
A seta lhe espeta o ímpeto
E imprime a continuidade
A ponto de deformar da carne o cerne

A perda tanto vocifera
Que o desespero
Vira esmero
Pelo circundante espelho.
A DOR acelera a espera
E a efusão do assustento
Tinge, para o sempre, a arena de SENTIMENTO

O visco que recobre o velame do surto
Faz a pontada resvalar
Ou direciona-a ao devido ponto,
E o escultor vento, escoar.
Faz espiralar toda a minúcia
Pelo vórtice da turbulência.
Dando contra a inexorável seta um bafo de astúcia,
Veste de ALMA a existência

Triunfa, então, o tempo
Ao, incessante, rasgar tal véu
Ferve daí uma corrente para remendo
Cujos halos cabe ao PENSAMENTO costurar
Confabula
Rasteja por todas as páginas
Mergulha
Vasculha
Rodopia até se prostrar
Diante do Narciso TEMPO.


E então que PENSAMENTO enovela SENTIMENTO
Para que não sucumba diante da beleza da força da VONTADE
Movida pela seta do TEMPO
Que faz poses para este ESPELHO

BIU
3/05/2003

A/E fe(s)tivamente

TONS


“Existe uma palavra que significa exatamente aquilo que o escritor quer dizer. A sua luta é achá-la” Moacyr Scliar
“Dando tonalidade afetiva é que se gera memória efetiva” Ivan Izquierdo


A história dos guichês
Um camundongo
Reconheça-se um camundongo explorador
Explarador da dor da memória
Machucado pela inquietude da incompreensão
Que revisita a inestimável dor
Incontrolavelmente
Não suportando uma rejeição injustificada
Incapaz de admitir um choque irreal
Expõe-se a outro mais intenso
Causa de uma dor sem igual
Na profusão da qual o degrau da plataforma torna-se um abismo
Da Síndrome Pós-Traumática

BIU
25/05/2004

13.1.05

Partículas encontradas

Djairo de Figueiredo comparou sua carreira à trajetória de uma partícula com as seguintes palavras:
“A carreira de uma pessoa é de fato como a trajetória de uma partícula. Há uma força que a movimenta, uma espécie de gravitação universal, que nos conduz diretamente do começo ao fim da vida. Se nada fizermos, a trajetória será suave, sem sobressaltos, mas também muito desinteressante. Mas isso raramente se passa. Freqüentemente ocorrem forças que modificam a trajetória. Se não forem muito fortes, há apenas uma descontinuidade na derivada, ou seja, uma mudança de direção. O que é que são essas forças que modificam nossa vida e nos dão novos rumos? São nada mais nada menos que nossos encontros com as pessoas.”

Amor e sexo na política nacional - Arnaldo Jabor

Amor e sexo não são prosa e poesia apenas. Amor e sexo estão entranhados em nossa vida política. Antes, já tivemos a “sex-pol”, bandeira da política sexual dos anos 60. Hoje, temos no máximo a “pol-sex”, pois, como as ideologias dançaram, talvez só a sexualidade explique os rumos do mundo e, claro, do nosso grande Motel Brasil, das ilusões perdidas. As taras estão rolando no país e muitos de nossos erros nascem de falhas na felicidade sexual. Já tivemos a grande broxada geral do país, durante os 30 anos de inflação, que nos faziam impotentes diante do mundo. Conseguimos consertar a inflação mas, em seu lugar, chegou a angústia de um “coito interrompido” pelos anos de austeridade fiscal e monetária. O FMI atua como um juiz castrador que segura, interrompe o prazer do gozo do desenvolvimento. Somos uma expectativa que não se consuma, temos de segurar o crescimento com altos juros, nos conformar com as reformas que não chegam nunca, porque os estupradores do dinheiro público não permitem, no Congresso. Ali mora a sexualidade perversa que oscila entre grandes sacanagens e as medidas provisórias que bloqueiam o gozo do progresso. Depois da repressão do prazer na ditadura, tivemos a lua-de-mel fracassada da liberdade, pois um micróbio entrou no honrado rabinho do Tancredo e, por isso, tivemos o casamento ilegítimo da pátria-viúva com Sarney, o cunhadão-vice. Depois de cinco anos de decepção conjugal, a pátria se amparou num “Ricardão” salvador que nos libertaria do atraso, o nosso Collor, eleito numa consagração sexual também. Dele se falava com olhos “em alvo” e pestanas “gay” batendo excitadamente: Collor, eleito como um messias jovem, belo, macho, lutador de caratê e comedor de atrizes. Collor foi eleito por uma ideologia “aveadada” e salvacionista . E Collor logo nos corneou com o provincianismo corrupto, depois de alardear que seria moderno e impessoal, e fomos largados, depois do impeachment, nos braços românticos do Jeca-Tatu Itamar, um babaca sexual com a Lilian Ramos na TV e na avenida, que por sua vez nos trouxe seu bem-amado FH, que desprezou-o depois, deixando-o numa dor-de-corno cheia de lágrimas e vinganças. FH na comunicação com o povo foi de uma frigidez sexual absoluta, como um marido sem carinho. Deixou o povo carente de amor, faminto de carisma — então, só a quente promessa popular de Lula nos dava tesão. Lula foi esperado como um amante que nos satisfaria com foices e martelos, as professoras e intelectuais da USP sentiam se aproximar finalmente a trepada definitiva tão esperada. Lula chegou como o macho ungido, entre bandeiras vermelhas e abraços populistas, agarrado e beijado por multidões, como um Cristo sexy e revolucionário que daria ao país o grande orgasmo dos intelectuais cansados de “realpolitik”. Mas Lula não nos comeu como queríamos. Continua nas “preliminares”, beijinho e festinhas, para desespero de Maria da Conceição Tavares e tantas “marias” sociológicas que ansiavam por ver com quantos paus se faz uma canoa. A morte também (dizem alguns) sexualizada de Celso Daniel nos jogou nos braços de Palocci, eficiente, mas frio e calmo como um Lexotan, ao invés do Viagra que esperávamos na economia. E a população caiu de novo na fome de amor, esperando o crescimento, como um pau que não sobe nunca. Namorados e namoradas de Lula caíram em depressão rancorosa, amando Lula “pelo avesso”, falando mal dele, um amante que preferiu outros. E só nos restou o “troca-troca” a que assistimos no Congresso e no Executivo, numa pederastia de fundo de quintal, no calor obsceno dos conchavos, tudo obedecendo ao lema sacana de “é dando que se recebe”. O Executivo promete carícias e não cumpre, mantendo prostitutas oferecidas como o PMDB numa insatisfação permanente, como putinhas reclamando de seus cafetões, na base de “eu dei tudo e dele só recebi bofetadas!”. Como vingança, o Congresso se entope de Medidas Provisórias, numa castração dolorosa, sofrendo de angústia de morte, pois o “nem transa nem sai de cima” é a marca registrada da paralisia nacional, a velha suruba onde só as elites gozam, enquanto o povo não come ninguém. FH, por sua vez, se vinga das sabotagens do ex-namorado Lula e diz que o “rei está nu” e o Lula geme magoado, dizendo que FH “não quer que a pátria seja feliz com outro marido”. E este bloqueio paralisante da política e do progresso só nos exibe a masturbação ideológica, dentro e fora do PT, com todos se acusando de direita ou de esquerda, de neoliberais ou carbonários, como bichas brigando na avenida. Todas as gritas são xingamentos de “virgens” ou “piranhas” e o PT, que era uma freira recatada, caiu numa devassidão de alianças com bocas e línguas febris e titilantes, descontando os anos de pureza. À população só resta o vício sexual do voyeurismo, único consolo dos impotentes: ficar vendo as sacanagens alheias, em cores e som, com o advento dos gravadores e escutas telefônicas. Gozamos um pouco com políticos algemados, mas logo liberados para nossa decepção, com a perda de breves ereções patrióticas. No plano conjugal, continuamos cornos de políticos que nos enganam, que são eleitos para prefeitura e querem mais, com a voracidade sexual-populista que acometeu o Cesar Maia, sem contar com a infidelidade partidária desbragada, o adultério entre partidos e a bissexualidade ideológica do PT e do PSDB, participando de menages à trois com o PP, PL e PTB. E por aí vamos. São perversões sexuais variadas, como “orgia de gastos”, “ fellatio e cunilinguismo” na tetas do Estado, estupros no Banco do Brasil, em suma, uma gama de taras sexuais que impede que tenhamos o orgasmo sadio do progresso. E em breve fundaremos o MSC — Movimento dos Sem Calças — nós que não paramos de levar ferro.
Arnaldo Jabor

23º

Vigésimo Terceiro


Neste dia celebro!
Celebremos!
Celebremos a alvorada da descoberta!
A descoberta de si mesmo
E de todas as pessoas conectadas ao si
Atadas ao si
Numa rede emócio-histórico-cultural
A primavera do ser plural

Consonantal comemoração
Embevecida numa atmosfera de vivacidade
Cercada por atitudes, propostas, encontros
Celebremos o bem-estar
(Infelizmente contraposto a inefável agonia de outrem)
Que capta o viés lúdico- artístico de todos os estímulos
E emociona
Retroativamente
Num circulo virtuoso

Estarreço-me perante os nuances do Real
E vicio-me ao deslumbramento dos processos
Em todas as escalas
De complexidade

Estarreço-me perante o amor que me mantêm no mundo
Com que colibris engalfinham-se no arame farpado
Irremediavelmente tocados pela sabedoria do viver

Tanto o meu amor como o de outrem
Que harmonizam a unicidade do momento
E compõem meu ser emócio-histórico-culturalmente
Filo e anto geneticamente

Biu
28/09/2004

(A)caso

(A)caso

É possível o acaso?
A gata adentra a aula pela janela
E uma seqüência de fatos é inevitável
Uma única
A
Fortuito
For tu
É, tu mesmo!!
Aguçando a sensibilidade, os princípios emergem,
Captam toda a atenção
As listras da gata de Schrödinger
E as camas d’água
Caso o acaso exista, o caso é mais um
E transpassa sem passar

Biu
17/10/2003

Vinhas de ouro

Vinhas d’ouro

Como o estridente piar
Dos olhos das recém-nascidas aves
Anunciam o próximo nascer,
Teu toque e teu brilho de teus olhos
Anunciam o esplendor dos dias vindouros
As vinhas d’ouro
Piam desesperadamente sob controle,
Incontidas
Liberam a pressão sublime em seus novos olhos
Em cadenciados sons
Alternando-se numa sinfonia despretensiosa
Assim também piam as calorosas artérias do meu coração

Biu
10/12/2003

Língua burra!!!

Língua burra!!

Todo sonho acaba com um chaqualhão
E o equilíbrio juvenil não pode sucumbir
Ao toque da insensível mão

Não pode haver problemas
Che(a)ga de problemas
Cuca fresca

Tirar espreguiçadamente a camisa
E vestir a cadeira suavemente
Senta(i)r e ter no rosto um sorriso
Um sorriso simples, sincero
De quem sente que é bem quisto
Igual ao provocado pelo pousar da borboleta
Que senta no tambor da roleta que rola

Não se sabe amar de outra forma
O coração que se perdoe
Mas não se consegue entender porque
Ar evapora da Dor que substitui Ardor

Alfaiate burro!!
As calças sempre curtas e mini-armaduras expõem
Machucados inevitáveis
Perseguir-se

Não se consegue estar bem com
A impossibilidade de estar bem

Acho que não se sabe amar
Ou se sabe
E deram o nome errado (certo) pra coisa certa (errada)

Língua burra!!!

Biu
23/05/2004

Abismo

Abismo

“entre beijo e boca,
tudo se evapora”
C. D. Andrade


Vagamos no abismo
Entre beijo e boca,
Entre fato e ato,
O gesto e o estático
Reféns do impulso que os separa

Na passagem residem caminhos,
Vidas dedicadas ao encontro da paixão
E da construção do monumental gesto,
Da relação chamada amor,
Interação entre boca e beijo

Como o estalo faltante a mim
Para amarrar estas palavras
E significar tais idéias,
Resta uma sobra,
Um elemento para afivelar beijo e boca...
Apenas a essência das coisas...
A maquina do mundo, do psique e da vida...
Apenas

Biu
27/07/2004
Recife

12.1.05

Regina

Regina

Reger as sutilezas dos momentos,
Harmonizando-as tão naturalmente.
Incumbida disso,
Atenta a todos os detalhes para descobri-los de rispidez
Desnudá-los de seu viés negativo
Rege-os para compor alegria,
Enternece-os antecipadamente,
Filtra-os antes de aplicar curativo
E sopra aos céus as saliências indevidas.
Habilidosamente Regina rege.

Empunha a alegria como um punhado da boa terra
Agarra-a
Pende-se dela
Ama com uma força desmedida
Projeta seu amor por toques irretocáveis
Cicatrizando, regenerando a menor folha caída.
Apanha-as e, cavalgando, borrifa-as, em pétalas, aos miseráveis.
Cavalga o mundo regendo alegria.
Regime Regina de viver

Planta alegria indefinidamente
Uma praga
Prega a praga da alegria
Descontrolada
Firme e rija, regira o desconforto do momento,
Regida por sua naturalidade estrategista,
Registrada nas notas ressonantes no pensamento,
E mascara o instante como irreparável artista.

Vai voando e despejandoDespeja seu incontido amor por entre nós
Esse amor que escorre de seu sorriso de ló
Despeja o amor que lambuza seu corpo
Que pinga de sua alma
Des-pé-já-nos.

Da janela de seus olhos, o mundo é sereno.
As bases de suas mãos encontram-se em nossos queixos
E estendem-se por todo (o) rosto aflito
Retalhando-nos os mais incômodos seixos

É então que você, dilatação no espectro da bondade,
É atacada por amarguras infinitas
Resvalam
Infinitas amarguras insistem
E seu espírito arguto somatiza-as, cansado,
Para livrar-nos de qualquer sombra de tristeza
Absorve-a todas para livra-nos de seus vórtices
Incapaz de fugir de seu dom,Afasta-nos do execrável
Afasta o execrável de nós
E leva ao infinito em todas as direções
Infinito, como é infinita a tristeza de sua morte,
Inferior apenas a alegria, amor e bondade de sua vida.

Continua seu papel,
Embevecendo a atmosfera de alegria
Fagocitando todos os momentos tristes
Como o fazem todos os momentos que transcorrem de ti
E que persistem por todo o infinito.

Biu
8/10/2004

S

S


Uma grinalda de bem-estar coroa meus pensamentos,
Embriaga-os languidamente,
Suavemente embala e acolchoa os momentos.
Além do físico, aprofunda-se na mente.

Uma conspiração das possibilidades
Compôs um halo de alegria
E acorrentou-me à maior das beldades,
Indefeso diante de sua atmosfera pura.

Nascidas do bojo dos campos mais sublimes,
As pétalas são acalentadas pelos veios mais inócuos.
E, lentamente
(não há pressa, pois harmonizadas por
forças sábias que reconhecem a suavidade subjacente
às belezas eternas),
Escorrem trazendo fragrâncias inexistentes,
Texturas inconcebíveis,
Sabores nem por Sade imaginados,
Sons perfeitos, irretocáveis,
Que remetem à paz de uma ilha intocada,
Cores e movimentos coreografados por oniscientes pintores e arquitetos.
Elas espiralam por uma poça cerceada por todo deus.

Então que, numa profusão sinestésica,
Guiadas por sopros divinos,
As pétalas dão forma a uma figura magistral,
Uma grinalda para sempre incólume,
Uma mulher eternizada pelo nome S.

Destinada a coroar todos os momentos de beleza,
Sob a sina de inundar de graça qualquer pensamento,
S nunca se estafa de sufocar tristeza
Com seus cheiros, toques, gestos, jeitos. Com seu inédito jeito.

Enfeitiçado como os que encararam Medusa,
Tive os passos congelados e o coração perfurado.
Segui o rastro de pétalas de pés arrastados
Desejando escrever-lhe o melhor dos livros de poesia.

Movido por impulsos dionisíacos,
E com estomago soprado por um vento gelado,
Aproximei-me da diva mais que bela
De corpo suspenso por seus traços e estímulos paradisíacos.

Cada palavra escorrega-me a alma,
Cada brilho de olhar faz-me arrimar na parede,
Cada sorriso ressalta-me a beleza remanescente
E cada pescoço cheirado faz-me renascer sem calma,
Pra vida eterna.

Ao tocar seus lábios fui transportado,
Deixei o corpo, embalsamado por pétalas.
As pétalas trazidas dos mais belos montes
Pelos fios de lágrimas das mais elevadas montanhas,
Enternecidas pela pureza de meus sentimentos.

S coroa meus pensamentos
Acolchoa meus momentos
E me vicia em texturas de sentimentos
Coroando instantes cuja intensidade remete ao eterno.

Biu
09/11/2004

Recital

Recital de Formatura – Simone de Souza Gonçalves

O conjunto ressoa o inefável..............................................................
Regido por um apêndice inatingível.......................................................
Vida e obra ressoam o impensável............................................................
Dedilhando a memória impensável..............................................................
O eterno jaz no encontro plasmático..............................................................
Da digital com a prótese rumo ao sublime.....................................................
No fundir freneticamente harmônico .............................................................
De ser com seu pensamento incólume............................................................
Bach, Beethoven, Schumann e Krieger conduzem........................................
As mãos e os pés por um intrincado labirinto................................................
Dédalo de emoções faz a cóclea de refém......................................................
E impregna a alma do absurdo caminhar ereto..........................................
As teclas acavalam-se para projetar dor à cauda...................................
A dor que invade a moça em vestido preto em salva.......................
Passa dos martelos às cordas ressonantes.....................................
Que realimentam a composição...............................................
Num circuito de emoção....................................................
Cuja variação inunda o individuo do divino............
A impressionante habilidade........................
Conecta os sobressaltos.............................
Conduz o espetáculo da música.............
Ao seu êxtase.........................................
Preenche as microvilosidades..............
De toda (a) alma..............................
E faz a consciência....................
Transbordar...
O momento..
Buscando a simples essência.

Biu
10/12/2004

Veri

Veridiana


Imagino-a-nos a todo momento
Sofro com meu amor
Como sofre a gota que escorre
No suor da testa que morre,
Invagina-se perante a flor,
Pois, faz do amor, o calor do pensamento

Biu
16/08/2002

Televisão

Televisão

Telê vi são
Te Levi são
Televisão
O T da antena da televisão:
Duas tabuas
A de baixo sustenta a de cima
Fragilmente
Um equilíbrio milimétrico
Tela e felicidade
Suporte épico
A de baixo mantem
A de cima retem
Oscila, desespera
Mas lá sempre está o mico
Tábuas
Achatadas
Chatadas
A chá dadas
Atadas
A esfericidade achatada
O T da tomada, vulgarização do Benjamin

Biu
29/03/2001

Saudade

Saudade

Como contornar constante saudade constante
Amarrado a esta
Emaranhado nesta
Viciado no aroma do lar
Fadado ao simples ato de amar
A ponto do pensamento sufocar
Estrangular, torcer
E fazer do sangue do amor,
O único que sai
Planto o pranto

Biu
03/04/2001

Riscos

Riscos

“Toda teoria vem ungida de preconceitos. De inerrância. De dogmatismo”.
De auto-suficiência. Gosto mesmo é da vida. Com suas incoerências.
Com seus altos e baixos. Com as suas montanhas e os seus vales.
Com todos os seus acidentes geográficos. Com tudo isto que faz
a vida gostosa e divertida.”



Meu dia é noite
Há relâmpagos curtos e longos
Como o bem-estar num albergue espanhol
Mas é noite.

Esqueço de meu sucesso na ciência
Esqueço de contar
Pois estou carente
E um carente transmite tristeza.
A solidão rouba-me.

O erro é essencial, pois promove mutação.
E esta, a evolução.
E explica nossa trajetória
Errante.
Erramos, pois somos o acumulo de erros;
E aqui estamos porque erramos.

Biu
14/12/2004

Período

Período


Oscilo entre o sábio e o chulo.
A solidão provoca flutuações do ego
Um silêncio arrebatadoramente cego
Que me projeta no povo por onde perambulo

Firo-me para curar-me

Preciso de fendas que me difratem
E não espelhos que me exaltem ou rebaixem.
Habituei-me às regras do outro.
Penduro a toalha no espelho.
Não estou pronto.

Deito nu
E transparente sigo ao museu,
Infiltro-me no jardim burlesco
E na loja de antiguidades busco o mesmo.

Saudades bárbaras invadem minha consciência
Deixando-me faminto pela programação caleidoscopica.
A tradição japonesa torna-se fóbica
E a sudorese da Cinelândia reflete a ausência.

Mas resgato a felicidade
Ao achar o ângulo que eterniza a realidade.

Biu
12/12/2003

Pa(z e is)

Pa(z e is)

Pais que não deixam o rapaz,
Restauram minha paz.
Involucram-me.
Escorro vagarosamente na curva suave de seu amor
Como uma gota na pétala da mais acolhedora flor.

Paz na sombra dos pais
A paiz da raiz, nos pais.
Troque-se a curva pelos traços,
Pois não sinuam,
Insinuam sim, a mais pura dor
Em si, nuam
Expremem-se tanto
Que escorre o amor gotalado
Puro, infinitado
Absolutamente.

Seus traços sim, me traçam
O de cima
O de baixo
A mais sublime união
Vinda do âmago do mistério
E desta, um novo traço
Um novo risco
Uma nova estória
Escorado nesse mundo arisco
Pela eterna aurora
Como a do sol sobre a Terra
Formando o traço e ponto do i
E transformando, assim, a paz em pais

Biu
2/01/2002

London

London

Sweet Thames, runs roughly
Cause moment is umberable.
Can’t stand it, neither under.
Show against time our battle.

I know so little about flowers
But cry when a single touch touch my eyes.

If poetry jumps from these waters
It is because humilty has gone to pies
And humanity buried with apples

So much apples
And so bitter pies

The way you shake
Reminds me the oders
And the bleeding from their back.
The time claws,
And the way it lashes.

From British and Natural History Museums
Through National Gallery and Tate Modern
Can (everyone) fly above our time
See its melting point
And fall with its weight

The green places make we sit
And admire how can life exists
And why must a tree grows
Ignoring ubiquitary flows

All the corners, your meanders
Show the curves
Wheren we recover conscience
The conscientiousness of time
And vice versa.
The reality from the Unreal city.

Biu
15/08/2003

Lapso

Lapso



A esfericidade deste momento inunda,
Inunda meu ser do puro pensar
Refletir, como reflete o lustre esférico deste quarto,
Reflete a janela, a misteriosa dor do parto.

A ausência desperta ao novo
Impele o espírito a ousar
E o grito explode incontido, a ecoar,
Dando vida às pétalas de pano.
Comovo-me.

Toda curvatura exige esforço
Desviar do caminho direto e permitir-se
Permitir a concavidade ciliar
E a convexidade da brasilidade feminal.

Biu
Carnaval 2004

Hotel Ferreira Viana

Hotel Ferreira Viana



Fios de ouro branco escorrem
Pelo espelho paranóico
Que absorve meu olhar trêmulo e heróico
Em busca de mim e dos que fogem

Também lá fora, pelos paralelepípedos do Catete correm
E fogem de uma antítese infinita:
A falta de amor pelo externo imita
Implica e explica o desleixo interno dos que morrem.
Somos uma descontinuidade
E não somos
Pois o ser depende do amar sincero bidirecional
Ao que chamo felicidade.

Biu
10/12/2003

Flores

Flores


Pessoas são como flores!
A mais sublime dor exala uma fragrância desmedida.
E precisam de um inseto,
Uma borboleta, um grande passarinho,
Ou até do vento
Para desfolhear sua carapaça impermeabilizante
E depreender o pólen,
Um pó lento
Que oscila brawnianamente
Até encontrar seu destino,
O que mais rejeitam,
Uma nova flor
De anteras abertas,
A si mesmos
Um poço sem fundo
Cujo fundo está nas coisas simples
Como o simples oscilar
E ter certeza de que
Não há certeza
Apenas a tragédia do vascilar

Biu
27/09/2003

Filosofia da Linguagem

Filosofia da Linguagem

Sejam os corpos
Os números
As palavras
Alfabetos
Verbos
Todos estabelecidos
E absorvidos
Sem questionamento
Somos acostumados
Aos significados dos signos
Deles nos apossamos
E neles nos viciamos.

Minha enxaqueca desprende-se com eles
E a ordem encapsuladamente jaz
Sob os cuidados do contrato signatário.

Comunicação
Comum ação e cação
Comum cação
Co-munião
Comucação
Cacomencão
Muconica
Comunicacao
Comunicacao
cominicacao
comunicacao
comunicacao
comunicacao

Sob um sistema de comunicação
A impressão que se desprende
Dos símbolos (des)cansa sobre
As austeras lanças do ser nobre
E resigna-se ao acomodamento.
Captar a real alusão
E depreender:
Eis uma meta.

Quem sabe, através da língua da natureza,
Captemos sua essência
E a nossa...

Convívio

Convívio

Cortar , Cessar,
Interromper.
A aflição que
doma o ser ,
quando lhe
embevece
a atmosfera da Morte ,
Estagna e resta arfar ao ritmo da corda que suspende.
Despencam pilastras todos instantes Na composição do escravo
caminhar . E a poeira levantada por pés vacilantes Enevoa a beleza
do mármore que virá a deparar . O doce veneno dos loucos amantes
Lacra a efervescência para o nunca . Emplastro dos enfermos agonizantes,
As horrendas dores e tristezas dos pobres errantes , trunca . Alívio!!
Heróis ?!Mestres na
escultura de suas
lápides !Vagam por
preciosas pedras
e, então, incrustar...
Sabem que o
último brado
é o único capaz
de imortalizar.
Banemos o
fatalismo
paralisador !
Convivamos
com a Morte !
Empunhemos
o inevitável!
E Façamos da Morte
a arte de viver!
Arte!!
O limite nos é sorte
Pois podemos
sublimar e sublimar
sem a necessidade
de definhar
Com o inferno da Morte

E viva a morte!!
Biu

Cálculo Diferencial

Cálculo Diferencial


Patetas
Vejo patetas
Expiro profundamente
E o ar quente e podre que daqui sai
Exala a monotonia do ser humano
E condensa-se numa cúpula gelada
Buscamos não sei o que
Caminhando
Passo a passo
Vemos apenas adversários
E num infinitesimal da sinuosa curva
Não conseguimos apreender
A constância funesta
Do ser humano
Candidamente
Neuroticamente.
Apenas
Só resta o humor
Criamos o riso, a risada
Não existe riso sem desgraça
Como vazio sem vaso
E no arcabouço do livre-arbítrio
Criamos perfumes
Para encobrir
A podridão
Que tinge a água
Que refresca as feridas asquerosas
Da contínua guerra do ser
Contra o Diabo e Deus.

Biu
18/09/2003

Batalhas

Batalhas



Aahhh!!! Se a alma humana fosse vista
Sem precisa rmos de pista
Tudo exposto ao céu aberto
Contempl ássemos o s labirintos de perto !!!
Verí amos allgu mas dilaceradas
Escavadas pelas unhas da vida
Esculpidas pelas in te m p éries delas vestidas
Vazadas espetadas p or cir úr gi cas lanças atravessadas
Das c rianças n u as e cruas
Pálidas esferas r ol ando nas ruas
Latências pulsant es por fl echas e pedras cruzadas
Que até n os sonho s estão alojadas
Às veze s uma b ala de canhão
E vidas pa ra a sup er ficial cicatrização
Decapt adas ou de s ugadas cabeças
No corpo di ssolv idas digeridas
Numa a utoce falofagia
Para nun ca mais conseg uir unir as peças
Toda a loucura c ondensa da num átimo:sofrimentorréia
Sob o escudo de int actos co rpos e v igorosos sorrisos e falas
Lá está a alma vestida com bro ches se medalhas
Disforme tortuo sa e cap engamente
Torcendo pelo mais s úbito go lpe pelas costas
Ou pelo abraço que só virá de trás
Pois a guarda é muito firme na batalha da vida
Biu
25/07/2002

A uma amiga

A uma amiga


Vossa Excelência, licença para colocá-la nessa brancura,
Parte do seu infindável reino. Solte-se por essa madeira,
E, de alguma maneira, mostre sua força. Um piparote já é moldura,
Loucura. Seu palco é o mundo, é o fundo. É a clareira sem beira

Quando colocaram Vossa Santidade na rocha saímos da Pré
E viramos História. Nasceu a memória. Ouvir é glória.
Chega pelo ar nessa parabólica, colabora ou apavora: a História.
Vossa Santidade conduz essa peça, chamada vida. É o pé

A Senhora atravessa os mares, invade os lares; afasta feras, acende trevas
Permite o culto aos deuses, a fé das montanhas. É a escada do porão
Sobre a Senhora não há domínio. Mais forte que Sol. Define imensidão
Mais profunda que o mar, mais romântica que o luar. É-nos cevas

Sua pá lava, eleva, cala, safa, mata. Você, Palavra, semeia o Amor,
A dor; cultiva o sabor; planta o saber, o viver: amplitude celeste
Sem você tudo some: a ciência, a religião. Chegaria, Mestre, a Peste
Graças ao seu infinito sou ser humano. Sem seu infinito já éramos: Clamor
Biu, 1999.

Pelo Viés da Poesia

Acabei de criar este blog. A idéia vem amadurecendo a algum tempo: criar um ambiente virtual onde seja desejável expressar-se por meio da poesia, em seu sentido mais amplo; onde possamos enxergar o mundo também pelo viés da poesia, levando-nos a assombros emocionais, tentando detectar a beleza insubstituível de todo (o) momento, tentando destacar a alegria que nos embevece quando percebemos que podemos perceber tal beleza e que nos impele à construção de algo melhor e a que chamo epifania. A poesia é o instrumento da epifania. Espero que colhamos grandes alegria e bem-estar pelo viés da poesia.