20.4.06

VII


Alto do Caparaó ao Pico da Bandeira

Dádiva em fragmentos condensados

“O tempo é a dádiva da eternidade” – William Blake
“A totalidade do ser é impossível para nós. Assim, dão-nos tudo, mas de forma gradual.” - Jorge Luis Borges

Ao nível de nuvens soltas,
Cabelos ao vento ar puro
Serpenteiam livres de apuro
A captar sensações amorfas

Dobraduras sem fim
Entremeadas de rotas-minhocas
Laranjas, bradam por mim
E mostram o mundo sem tocas.
Toques de deus por entre fiapos
Iluminam do caminho da luz o fim
E traçam fugas aos aliados
Por um mundo melhor enfim.

Vapores do desespero
Anunciam o esmero
Por um trato sereno
A um perfil pleno.
Como um tato de glória,
Os olhos percebem o meio
E tocam tanta bandeira
Que descascam um país brasileiro
Fértil
Vigoroso
Viçoso.

Subir mais alto só pra ver
O vento rugir segredos
Nos ouvidos cegos
E despertar a fúria de viver,
Soterrada no dia-a-dia,
Embriagada no formol da rotina.
Encurralada, agora pulsa,
Ganha superfície e volume
Fagocitando beleza crua,
Expandindo o limite, incólume
Ao tão que lhe invade
E inspira a liberdade.

Brilha o país
E o planeta inteiro
Do Pico da Bandeira
Em suspiros de vitória
Por um caminho trilhado
Rumo a um eu herdeiro
De um desejo descabido
De viver tudo primeiro.

Cada passo
Todo o passo
Passo todo
Calculado em descalço,
Ciente do caso do descaso,
Revigorado ao máximo
De eterno retorno
Enquanto dura o passo
Derradeiro,
Mas passo a passo.

Tons de uma terra sui generis
Aquarelam o precioso
Nos olhos febris
Do espírito ocioso.
E abduzem,
Como as lâminas da eternidade
Nos fazem com o tempo,
Expondo fragmentos da totalidade,
Sombras coloridas no gradual
Condensadas no limite do real.

Ímpeto vital,
Presente,
Pluma da passagem do tempo,
Passa tempo
Anda
Caminha
Permanecendo no fugaz,
Ardendo de viver
Agora.
Assim como a luz
Que arde e caminha
Ao belo, infinito e eterno do agora
Em seu caminho, que nunca acaba.

13, 19 e 20 - 01 - 2006