18.10.06

Tempo hipopotametal

Um esforço moroso e abafado pela limitada capacidade de efetiva ação tira o corpo obeso do poço esverdeado de merda mole.
Sobe os degraus de concreto submersos.
Os passos vagarosos conduzem a cabeça baixa do animal pela terra batida até a poça do canto. Fareja a água empoçada enquanto a barriga acortinada por camada lateral de gordura fica submersa. Larga-se e as narinas rosas continuam a respiração...

...mergulhada num tempo próprio, desnaturada pelo inchaço das horas, desprovido de sua inerência biológica , de sua capacidade propulsora de uma sexualidade.
As paredes e grades retém o tempo hipopotametal desatado do universo civilizado, inerte aos ruídos visitantes, aos dias e noites.
Sensível apenas às baias plenas de frutas e verduras e às cagadas verdes e bem definidas ao longo do embosteado fluxo do dia.