31.8.06

Infatilidade?


Cartum da Criação

Ele come ele que come ele que come ele que come isto que come aquilo que come poeira. A poeira leve do chão.
A cadeia alimentar viciada pelo instinto comilão.
Predador e presa confundidos no ciclo do vôo ao chão.
A não ser que seja um gato acrobata do circo de Vostok, sua ansiedade é o seu caixão.
Vê-se tudo aqui: do alpiste inofensivo e digerido ao cachorro bocarrão.
O pássaro protege-se na prisão, com olhar de garanhão.
O gato inquieta-se por um pássaro fujão.
O cachorro bojudo espera o salto refeição, bobo de satisfação e com a sensação de pança cheia. O rabo abana o seu dono.

Provocação
Uma nota cantada de insinuação.

Um pulo certeiro: fuça na grade guardião.
Está aberta a saída, o portão da imensidão.
O gato esperneia, despenca e faz um arco apoiado nos dentes do comilão.

Eis que nosso pássaro espertalhão alça vôo e libera a rajada de restos de alpiste.
Lambuza gato e cachorro e voa um canário bem safado, com olhar maroto e um traseiro artilharia pesada.

OS: até parece uma metáfora boba, mas sei lá: instinto criador enjaulado, esperado pelo ego, esperado pelo bocarrão do superego. O que se busca então é a rajada na arrogância, um vôo livre e leve depois do cagão.

25-03-2006
Felipe Modenese