13.1.05

Partículas encontradas

Djairo de Figueiredo comparou sua carreira à trajetória de uma partícula com as seguintes palavras:
“A carreira de uma pessoa é de fato como a trajetória de uma partícula. Há uma força que a movimenta, uma espécie de gravitação universal, que nos conduz diretamente do começo ao fim da vida. Se nada fizermos, a trajetória será suave, sem sobressaltos, mas também muito desinteressante. Mas isso raramente se passa. Freqüentemente ocorrem forças que modificam a trajetória. Se não forem muito fortes, há apenas uma descontinuidade na derivada, ou seja, uma mudança de direção. O que é que são essas forças que modificam nossa vida e nos dão novos rumos? São nada mais nada menos que nossos encontros com as pessoas.”

Amor e sexo na política nacional - Arnaldo Jabor

Amor e sexo não são prosa e poesia apenas. Amor e sexo estão entranhados em nossa vida política. Antes, já tivemos a “sex-pol”, bandeira da política sexual dos anos 60. Hoje, temos no máximo a “pol-sex”, pois, como as ideologias dançaram, talvez só a sexualidade explique os rumos do mundo e, claro, do nosso grande Motel Brasil, das ilusões perdidas. As taras estão rolando no país e muitos de nossos erros nascem de falhas na felicidade sexual. Já tivemos a grande broxada geral do país, durante os 30 anos de inflação, que nos faziam impotentes diante do mundo. Conseguimos consertar a inflação mas, em seu lugar, chegou a angústia de um “coito interrompido” pelos anos de austeridade fiscal e monetária. O FMI atua como um juiz castrador que segura, interrompe o prazer do gozo do desenvolvimento. Somos uma expectativa que não se consuma, temos de segurar o crescimento com altos juros, nos conformar com as reformas que não chegam nunca, porque os estupradores do dinheiro público não permitem, no Congresso. Ali mora a sexualidade perversa que oscila entre grandes sacanagens e as medidas provisórias que bloqueiam o gozo do progresso. Depois da repressão do prazer na ditadura, tivemos a lua-de-mel fracassada da liberdade, pois um micróbio entrou no honrado rabinho do Tancredo e, por isso, tivemos o casamento ilegítimo da pátria-viúva com Sarney, o cunhadão-vice. Depois de cinco anos de decepção conjugal, a pátria se amparou num “Ricardão” salvador que nos libertaria do atraso, o nosso Collor, eleito numa consagração sexual também. Dele se falava com olhos “em alvo” e pestanas “gay” batendo excitadamente: Collor, eleito como um messias jovem, belo, macho, lutador de caratê e comedor de atrizes. Collor foi eleito por uma ideologia “aveadada” e salvacionista . E Collor logo nos corneou com o provincianismo corrupto, depois de alardear que seria moderno e impessoal, e fomos largados, depois do impeachment, nos braços românticos do Jeca-Tatu Itamar, um babaca sexual com a Lilian Ramos na TV e na avenida, que por sua vez nos trouxe seu bem-amado FH, que desprezou-o depois, deixando-o numa dor-de-corno cheia de lágrimas e vinganças. FH na comunicação com o povo foi de uma frigidez sexual absoluta, como um marido sem carinho. Deixou o povo carente de amor, faminto de carisma — então, só a quente promessa popular de Lula nos dava tesão. Lula foi esperado como um amante que nos satisfaria com foices e martelos, as professoras e intelectuais da USP sentiam se aproximar finalmente a trepada definitiva tão esperada. Lula chegou como o macho ungido, entre bandeiras vermelhas e abraços populistas, agarrado e beijado por multidões, como um Cristo sexy e revolucionário que daria ao país o grande orgasmo dos intelectuais cansados de “realpolitik”. Mas Lula não nos comeu como queríamos. Continua nas “preliminares”, beijinho e festinhas, para desespero de Maria da Conceição Tavares e tantas “marias” sociológicas que ansiavam por ver com quantos paus se faz uma canoa. A morte também (dizem alguns) sexualizada de Celso Daniel nos jogou nos braços de Palocci, eficiente, mas frio e calmo como um Lexotan, ao invés do Viagra que esperávamos na economia. E a população caiu de novo na fome de amor, esperando o crescimento, como um pau que não sobe nunca. Namorados e namoradas de Lula caíram em depressão rancorosa, amando Lula “pelo avesso”, falando mal dele, um amante que preferiu outros. E só nos restou o “troca-troca” a que assistimos no Congresso e no Executivo, numa pederastia de fundo de quintal, no calor obsceno dos conchavos, tudo obedecendo ao lema sacana de “é dando que se recebe”. O Executivo promete carícias e não cumpre, mantendo prostitutas oferecidas como o PMDB numa insatisfação permanente, como putinhas reclamando de seus cafetões, na base de “eu dei tudo e dele só recebi bofetadas!”. Como vingança, o Congresso se entope de Medidas Provisórias, numa castração dolorosa, sofrendo de angústia de morte, pois o “nem transa nem sai de cima” é a marca registrada da paralisia nacional, a velha suruba onde só as elites gozam, enquanto o povo não come ninguém. FH, por sua vez, se vinga das sabotagens do ex-namorado Lula e diz que o “rei está nu” e o Lula geme magoado, dizendo que FH “não quer que a pátria seja feliz com outro marido”. E este bloqueio paralisante da política e do progresso só nos exibe a masturbação ideológica, dentro e fora do PT, com todos se acusando de direita ou de esquerda, de neoliberais ou carbonários, como bichas brigando na avenida. Todas as gritas são xingamentos de “virgens” ou “piranhas” e o PT, que era uma freira recatada, caiu numa devassidão de alianças com bocas e línguas febris e titilantes, descontando os anos de pureza. À população só resta o vício sexual do voyeurismo, único consolo dos impotentes: ficar vendo as sacanagens alheias, em cores e som, com o advento dos gravadores e escutas telefônicas. Gozamos um pouco com políticos algemados, mas logo liberados para nossa decepção, com a perda de breves ereções patrióticas. No plano conjugal, continuamos cornos de políticos que nos enganam, que são eleitos para prefeitura e querem mais, com a voracidade sexual-populista que acometeu o Cesar Maia, sem contar com a infidelidade partidária desbragada, o adultério entre partidos e a bissexualidade ideológica do PT e do PSDB, participando de menages à trois com o PP, PL e PTB. E por aí vamos. São perversões sexuais variadas, como “orgia de gastos”, “ fellatio e cunilinguismo” na tetas do Estado, estupros no Banco do Brasil, em suma, uma gama de taras sexuais que impede que tenhamos o orgasmo sadio do progresso. E em breve fundaremos o MSC — Movimento dos Sem Calças — nós que não paramos de levar ferro.
Arnaldo Jabor

23º

Vigésimo Terceiro


Neste dia celebro!
Celebremos!
Celebremos a alvorada da descoberta!
A descoberta de si mesmo
E de todas as pessoas conectadas ao si
Atadas ao si
Numa rede emócio-histórico-cultural
A primavera do ser plural

Consonantal comemoração
Embevecida numa atmosfera de vivacidade
Cercada por atitudes, propostas, encontros
Celebremos o bem-estar
(Infelizmente contraposto a inefável agonia de outrem)
Que capta o viés lúdico- artístico de todos os estímulos
E emociona
Retroativamente
Num circulo virtuoso

Estarreço-me perante os nuances do Real
E vicio-me ao deslumbramento dos processos
Em todas as escalas
De complexidade

Estarreço-me perante o amor que me mantêm no mundo
Com que colibris engalfinham-se no arame farpado
Irremediavelmente tocados pela sabedoria do viver

Tanto o meu amor como o de outrem
Que harmonizam a unicidade do momento
E compõem meu ser emócio-histórico-culturalmente
Filo e anto geneticamente

Biu
28/09/2004

(A)caso

(A)caso

É possível o acaso?
A gata adentra a aula pela janela
E uma seqüência de fatos é inevitável
Uma única
A
Fortuito
For tu
É, tu mesmo!!
Aguçando a sensibilidade, os princípios emergem,
Captam toda a atenção
As listras da gata de Schrödinger
E as camas d’água
Caso o acaso exista, o caso é mais um
E transpassa sem passar

Biu
17/10/2003

Vinhas de ouro

Vinhas d’ouro

Como o estridente piar
Dos olhos das recém-nascidas aves
Anunciam o próximo nascer,
Teu toque e teu brilho de teus olhos
Anunciam o esplendor dos dias vindouros
As vinhas d’ouro
Piam desesperadamente sob controle,
Incontidas
Liberam a pressão sublime em seus novos olhos
Em cadenciados sons
Alternando-se numa sinfonia despretensiosa
Assim também piam as calorosas artérias do meu coração

Biu
10/12/2003

Língua burra!!!

Língua burra!!

Todo sonho acaba com um chaqualhão
E o equilíbrio juvenil não pode sucumbir
Ao toque da insensível mão

Não pode haver problemas
Che(a)ga de problemas
Cuca fresca

Tirar espreguiçadamente a camisa
E vestir a cadeira suavemente
Senta(i)r e ter no rosto um sorriso
Um sorriso simples, sincero
De quem sente que é bem quisto
Igual ao provocado pelo pousar da borboleta
Que senta no tambor da roleta que rola

Não se sabe amar de outra forma
O coração que se perdoe
Mas não se consegue entender porque
Ar evapora da Dor que substitui Ardor

Alfaiate burro!!
As calças sempre curtas e mini-armaduras expõem
Machucados inevitáveis
Perseguir-se

Não se consegue estar bem com
A impossibilidade de estar bem

Acho que não se sabe amar
Ou se sabe
E deram o nome errado (certo) pra coisa certa (errada)

Língua burra!!!

Biu
23/05/2004

Abismo

Abismo

“entre beijo e boca,
tudo se evapora”
C. D. Andrade


Vagamos no abismo
Entre beijo e boca,
Entre fato e ato,
O gesto e o estático
Reféns do impulso que os separa

Na passagem residem caminhos,
Vidas dedicadas ao encontro da paixão
E da construção do monumental gesto,
Da relação chamada amor,
Interação entre boca e beijo

Como o estalo faltante a mim
Para amarrar estas palavras
E significar tais idéias,
Resta uma sobra,
Um elemento para afivelar beijo e boca...
Apenas a essência das coisas...
A maquina do mundo, do psique e da vida...
Apenas

Biu
27/07/2004
Recife